Os evangelhos apócrifos, escritos entre os séculos 2º e 7º, tentam preencher as lacunas biográficas da Sagrada Família, oferecendo versões alternativas sobre a infância de Jesus, Maria e José. Esses textos, que não são considerados canônicos pela Igreja, apresentam um Jesus criança com poderes sobrenaturais, capaz de realizar milagres, mas também com comportamentos surpreendentes e até cruéis, como matar pessoas e animais. Enquanto a tradição cristã enfatiza o caráter divino e sereno de Jesus, os apócrifos o retratam como uma figura complexa, com inteligência precoce e um temperamento impulsivo.
Além disso, os evangelhos apócrifos oferecem uma visão diferente sobre Maria e José. Maria, em muitas dessas narrativas, é retratada como uma adolescente grávida por intervenção divina, com uma virgindade exaltada, enquanto José é apresentado como um viúvo idoso e justo, que teria sido escolhido para proteger Maria e garantir sua virgindade. Esses relatos visam, entre outras coisas, reforçar o dogma da pureza de Maria e responder às críticas sobre a paternidade de Jesus, uma questão importante nos primeiros séculos do cristianismo.
Embora os apócrifos tenham sido rejeitados pela Igreja oficial, eles exerceram influência sobre o cristianismo primitivo, oferecendo interpretações alternativas e abordagens devocionais que persistem até hoje. Tais textos, por mais que sejam considerados fantasiosos e hiperbólicos, refletem as preocupações e questões teológicas dos primeiros cristãos, e, ao serem lidos como literatura, podem ser compreendidos como tentativas de dar mais profundidade e contexto à vida de figuras centrais do cristianismo, ainda que sem um fundamento histórico sólido.