Em 2003, escavações realizadas na Praça Dom Pedro II, no Centro Histórico de Manaus, revelaram a presença de um antigo cemitério indígena. Durante a pesquisa, foram encontradas cinco urnas funerárias, com cerca de 1.500 anos, de povos que habitavam a região muito antes do período colonial. O sítio arqueológico, identificado na década de 1950 pelo arqueólogo Klaus Hilbert, foi oficialmente escavado e estudado a partir de 2003. As urnas agora estão expostas no Museu Arqueológico da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e no Museu da Amazônia (Musa).
Embora as pesquisas ainda não tenham conseguido determinar com precisão a etnia dos povos responsáveis pelas urnas, especialistas destacam a importância do achado para a história local, que, segundo a superintendente do Iphan no Amazonas, Beatriz Calheiros, precisa ser vista sob uma nova perspectiva. A Praça Dom Pedro II, tradicionalmente associada à expansão de Manaus durante o ciclo da borracha, também carrega vestígios da presença indígena na cidade, algo frequentemente negligenciado na narrativa histórica oficial. A revitalização do espaço, em 2020, incluiu marcações no local onde as urnas foram encontradas, destacando a importância dessa memória ancestral.
A historiadora indígena Izabel Cristine, da etnia Munduruku, enfatiza que a identidade indígena, embora parte fundamental da formação de Manaus, é muitas vezes invisibilizada na sociedade atual. A preservação desses locais é vista como uma forma de afirmar a continuidade e a existência dos povos originários, cujas histórias, segundo ela, foram “sequestradas” ao longo do tempo. A descoberta das urnas funerárias, portanto, representa não apenas um achado arqueológico, mas também um ato de resgatar e reconhecer a rica e complexa história indígena da região.