Em agosto de 2023, o tenente-coronel Mauro Cid prestou depoimento à Polícia Federal, detalhando as divisões e estratégias adotadas por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro após a derrota nas eleições de 2022. De acordo com o depoimento, o ex-presidente trabalhava com duas hipóteses: descobrir uma fraude eleitoral ou, por meio de aliados radicais, convencer as Forças Armadas a apoiar um golpe de Estado. Cid descreveu diferentes grupos dentro do círculo político e militar de Bolsonaro, com algumas figuras defendendo uma postura mais moderada e outras tentando impulsionar um movimento mais radical.
Os grupos moderados, como generais e ministros da época, opunham-se a qualquer tentativa de golpe, temendo as consequências de um regime militar prolongado. Eles acreditavam que a legalidade das instituições deveria ser respeitada. Em contrapartida, havia um grupo mais radical que acreditava na existência de fraude nas urnas e buscava formas de pressionar as Forças Armadas a apoiar a intervenção. O tenente-coronel destacou que esses radicais, incluindo aliados próximos a Bolsonaro, tentavam incitar uma ação mais contundente, explorando o artigo 142 da Constituição, que regulamenta a atuação das Forças Armadas.
Ao longo do depoimento, Mauro Cid também revelou que algumas tentativas de ação, como um decreto para novas eleições e prisões de autoridades, foram discutidas com o apoio de diversos membros do círculo mais próximo do ex-presidente. No entanto, a ideia não foi adiante devido à falta de adesão das Forças Armadas, especialmente por parte de comandantes que se opunham à proposta. O relato, que inclui encontros com pessoas influentes no contexto político e militar, foi crucial para a Polícia Federal em sua investigação sobre uma possível tentativa de golpe após as eleições de 2022.