Em entrevista recente, o cientista Carlos Nobre destacou o potencial do Brasil para se tornar o primeiro país de grandes emissões a alcançar a neutralização de gases do efeito estufa antes de 2050. O climatologista ressaltou que o país possui condições únicas, principalmente devido ao seu perfil de emissões, com 75% delas oriundas do uso da terra, sendo metade disso causado pelo desmatamento. Para Nobre, o compromisso do governo brasileiro de zerar o desmatamento até 2030 e promover uma transição energética rápida são passos essenciais para atingir esse objetivo.
A urgência global em combater as mudanças climáticas foi um dos pontos principais da conversa. Nobre alertou que, caso as emissões não sejam drasticamente reduzidas até 2025 ou 2026, o mundo pode ultrapassar o limite crítico de 1,5°C de aquecimento global, um marco considerado fundamental para evitar impactos catastróficos. O ano de 2024, segundo a Organização Meteorológica Mundial, foi o mais quente já registrado, superando a média global de temperatura pré-industrial em 1,5°C, o que aumenta as preocupações com a estabilidade climática do planeta.
O cientista também criticou o cenário global de financiamento climático, mencionando que, nas negociações da COP29, os países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, solicitaram US$ 1,3 trilhão para adaptação e transição energética, mas apenas uma parte desse valor foi aprovada. Para Nobre, a situação financeira ainda está longe do que é necessário para enfrentar a crise climática de forma eficaz. Apesar disso, ele segue otimista quanto ao papel do Brasil na redução das emissões, destacando a relevância do esforço conjunto em políticas públicas e ações ambientais concretas.