Na Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, centenas de famílias de agricultores transformam as lapas, formações naturais de pedra, em lares temporários durante o período de colheita das flores sempre-vivas. Essa prática, passada de geração em geração, ocorre anualmente e envolve a migração para as montanhas, onde cada família ocupa sua lapa equipada com fogão a lenha, camas improvisadas chamadas de “jirau” e dispensas para armazenar alimentos. A arquitetura natural das pedras é adaptada às necessidades dos moradores, que passam meses nesses abrigos.
A coleta das flores sempre-vivas, atividade reconhecida pela ONU como patrimônio agrícola mundial, é essencial para a subsistência dessas comunidades. Anualmente, mais de 200 toneladas dessas flores são exportadas, sendo algumas espécies, como o capim dourado, usadas para produzir itens artesanais. Além disso, os agricultores criam animais e cultivam alimentos, mantendo uma rotina de transumância – movimento cíclico em busca de melhores condições para a produção e a criação.
Essa prática, que alia tradição e sustentabilidade, destaca a importância do modo de vida dessas comunidades para a preservação cultural e ambiental da região. Apesar de desafios, como períodos de restrição de acesso às áreas de coleta, o costume permanece vivo, com crianças e adolescentes aprendendo e preservando as técnicas ancestrais de seus familiares, garantindo a continuidade dessa herança única no Brasil.