A repressão e a violência sistemática no centro de São Paulo têm levado à dispersão das pessoas em situação de vulnerabilidade, especialmente na Cracolândia, onde o uso de drogas é mais visível. A antropóloga Amanda Amparo, da Universidade de São Paulo (USP), observa que, embora a presença de pessoas na Rua dos Protestantes tenha diminuído 73,14% de janeiro a dezembro de 2024, isso não reflete uma redução real do problema, já que os indivíduos se deslocam para outras áreas da cidade. Ações de repressão, como operações policiais e a instalação de cercados, forçam os usuários a se dispersarem, mas não resolvem a questão do uso de substâncias e da falta de apoio estrutural para essas pessoas.
De acordo com a prefeitura de São Paulo, as operações de limpeza na Cracolândia, realizadas duas vezes ao dia, têm sido criticadas por grupos de defesa de direitos humanos. A antropóloga Roberta Costa, integrante da Craco Resiste, argumenta que essas limpezas não são medidas de cuidado, mas sim formas de institucionalizar a humilhação das pessoas em situação de rua, que, além disso, enfrentam violências físicas e psicológicas nesse processo. Costa ressalta que a abordagem do poder público não tem sido eficaz em proporcionar alternativas reais para essa população, como o acesso a moradia e cuidados de saúde adequados.
A dispersão de pessoas pela cidade, embora apresente um número menor de usuários em alguns locais, dificulta a implementação de políticas públicas eficazes. A falta de um acompanhamento contínuo e de um vínculo que permita o cuidado adequado a essas pessoas agrava ainda mais a situação, conforme apontado por Amparo e Costa. Além disso, a crescente circulação de usuários de drogas em outros pontos da cidade, como a região da República, revela que a mudança de cenário não corresponde a uma real transformação na qualidade de vida dessas pessoas. As especialistas enfatizam a necessidade de políticas mais humanas e estruturadas, que considerem as complexidades sociais e individuais desse público vulnerável.