A repressão intensificada e a violência contra usuários de drogas no centro de São Paulo resultaram na dispersão dessas pessoas para outras áreas da cidade. Segundo a antropóloga Amanda Amparo, apesar da queda no fluxo de pessoas na Rua dos Protestantes, região central da Cracolândia, a dispersão não levou à melhoria das condições de vida. As pessoas continuam a usar substâncias em outros locais públicos, como a Avenida Duque de Caxias e a região da República. A avaliação de Amparo é que, embora a presença no antigo epicentro tenha diminuído, a situação de vulnerabilidade não foi resolvida, e as dinâmicas de repressão têm gerado novas concentrações de consumo problemático de drogas em outros pontos da cidade.
Por outro lado, a prefeitura de São Paulo apresenta dados que indicam a redução no número de pessoas na Cracolândia e a implementação de programas como o “Trabalho Redenção”, que registrou milhares de encaminhamentos para serviços de assistência. No entanto, especialistas como a antropóloga Roberta Costa alertam que essas ações são, na verdade, reflexo de um processo de violência cotidiana que marginaliza ainda mais a população em situação de rua. A limpeza diária no local, que retira os usuários, é vista por ela como uma forma de institucionalizar a humilhação, intensificando as dificuldades enfrentadas por pessoas já em extrema vulnerabilidade social.
A dispersão forçada e as operações de repressão têm dificultado o trabalho de assistência social e o cuidado adequado dessas pessoas, que, segundo Roberta Costa, precisam de vínculos e suporte contínuo. A falta de um plano efetivo de reintegração social e a contínua violência institucional são apontadas como os principais obstáculos para a resolução do problema. Além disso, a fragmentação dos pontos de concentração de usuários, longe de promover uma solução, acaba criando novos desafios para políticas públicas que buscam combater o uso de substâncias de forma mais humana e eficaz.