O texto narra as observações da autora sobre as aves que se tornam parte do cotidiano nas diferentes cidades em que ela viveu, como Amsterdã, Nova York e o Cerrado. As gaivotas, periquitos e pombos que aparecem nas paisagens urbanas de Amsterdã não são apenas descrições de fauna, mas refletem uma analogia com suas próprias migrações e transformações pessoais ao longo de duas décadas, atravessando fronteiras, culturas e línguas. A autora destaca o impacto emocional dessas aves como uma metáfora para a jornada da imigração, onde cada mudança geográfica traz novas lições e reflexões sobre identidade e pertencimento.
A narrativa explora também a experiência de adaptação e a sensação de desajuste em um país estrangeiro, com ênfase nas dificuldades de compreender sistemas de medidas como Fahrenheit e milhas em Nova York. Além disso, ela reflete sobre o contraste entre a rotina em grandes cidades e sua saudade do Cerrado, bioma que marcou sua infância no Brasil, revelando o dilema emocional de se distanciar de suas origens. Nesse processo, as aves, como os pombos e periquitos, surgem como símbolos de conexão entre o passado e o presente, trazendo à tona sentimentos de pertencimento e perda.
Por fim, a autora compartilha sua recente obsessão pelas aves, detalhando a evolução de seu interesse, e traz à tona a relação de suas próprias migrações com a dos animais. A comparação com o escritor Nabokov, que via na captura de borboletas uma forma de silêncio e exploração, dá uma dimensão filosófica ao texto. Ao questionar o que significa “casa” após tantas mudanças, a autora conclui que, assim como as aves, continua a busca por um lugar onde se sinta finalmente em paz e em casa, independentemente das distâncias que ainda precisará percorrer.