A guerra civil na Síria, que se arrasta há 13 anos, exemplifica uma das mais complexas guerras por procuração do Oriente Médio, com diversos atores internacionais e regionais envolvidos. A Rússia e o Irã têm sido peças-chave no apoio ao regime de Bashar al-Assad, enquanto os Estados Unidos financiaram os curdos e grupos rebeldes seculares. Entretanto, um ator crucial, muitas vezes menos destacado, é a Turquia, que tem interesses diretos na resolução do conflito. A relação entre a Turquia e a Síria, marcada por disputas históricas e territoriais, se agravou com o apoio de Damasco aos movimentos separatistas curdos turcos. Esse pano de fundo histórico e político continua a influenciar a dinâmica do conflito e a postura de Ankara.
Durante a guerra, a Turquia acolheu cerca de 4 milhões de refugiados sírios, o maior número entre os países vizinhos. A presença massiva de refugiados em regiões economicamente fragilizadas tem gerado desafios sociais e econômicos para o país, já enfrentando uma grave crise inflacionária e de desvalorização da moeda. Enquanto muitos cidadãos turcos criticam a pressão adicional sobre os recursos públicos, o governo turco vê a possibilidade de repatriar os refugiados como uma solução tanto para aliviar a carga interna quanto para obter ganhos políticos, especialmente no contexto da crescente desconfiança da população em relação à crise econômica.
Outro fator importante na equação turca é a questão curda, com uma grande população curda tanto na Síria quanto na Turquia. Com cerca de 10% da população síria e até 20% na Turquia, os curdos são uma das maiores etnias sem um estado próprio. A luta por autonomia no Curdistão, especialmente em territórios como o norte da Síria, continua sendo um desafio para Erdogan, que vê os movimentos separatistas curdos como uma ameaça direta à estabilidade de seu governo. A Turquia, ao apoiar certos grupos rebeldes sírios, visa não apenas enfraquecer Assad, mas também evitar que o sentimento separatista curdo se espalhe para o território turco, complicando ainda mais a já delicada situação na região. A cada novo desenvolvimento, fica mais claro que o futuro da Síria estará profundamente entrelaçado com os interesses e decisões de Ankara.