Dom Bosco, sacerdote italiano do século XIX, ficou famoso por suas visões espirituais, entre elas, um sonho descrito como uma premonição sobre uma grande civilização que surgiria na América do Sul. Em 1883, ele relatou uma visão onde via uma região com um lago e riquezas naturais ocultas, o que, anos depois, foi interpretado como uma referência à futura Brasília. Embora não haja comprovação histórica de que Dom Bosco tenha falado especificamente sobre a capital do Brasil, essa interpretação ganhou popularidade nos anos 1950, especialmente entre os defensores da construção da cidade.
O uso do sonho de Dom Bosco para justificar a criação de Brasília se intensificou durante a presidência de Juscelino Kubitschek. Historicamente, a versão original do sonho não mencionava a capital federal, mas um jurista goiano, Segismundo Mello, solicitou ao padre Cleto Caliman que adaptasse o texto, incluindo a referência à “Grande Civilização”. Essa versão alterada, com a expressão “terra prometida”, foi usada para conectar a visão ao local de construção de Brasília, entre os paralelos 15º e 20º, e ao Lago Paranoá, um dos marcos da cidade.
A história do sonho de Dom Bosco é considerada por muitos como uma profecia da construção de Brasília, e sua figura é reverenciada na capital como um dos padroeiros da cidade. A Ermida Dom Bosco, inaugurada como a primeira construção de Brasília, simboliza essa ligação espiritual, mesmo que a relação entre o sonho e a capital seja, no fundo, uma construção interpretativa posterior. Esse episódio destaca o papel das narrativas históricas e espirituais na legitimação de eventos políticos e urbanos.