Cientistas do Instituto Mamirauá, em parceria com a Universidade Politécnica da Catalunha, realizaram um estudo inovador sobre o peixe-boi amazônico, utilizando técnicas de monitoramento acústico passivo e inteligência artificial para aprimorar as estratégias de conservação da espécie. A pesquisa foi conduzida no Lago Mamirauá, uma área remota da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, localizada entre Manaus e a Colômbia, e trouxe novos insights sobre os padrões de presença e vocalização dos peixes-bois, que são notoriamente difíceis de detectar visualmente.
Durante dois anos de monitoramento (2021 e 2022), os pesquisadores utilizaram gravadores subaquáticos e um modelo de rede neural convolucional para analisar as vocalizações dos mamíferos. A abordagem permitiu identificar, com alta precisão, a presença dos peixes-bois ao longo das estações, revelando que eles frequentam o lago especialmente na estação de cheia, quando o habitat é rico em plantas aquáticas essenciais para sua alimentação e abrigo para filhotes. O estudo também revelou padrões de comunicação vocal entre mães e filhotes, indicando a importância desse ambiente para a reprodução da espécie.
A pesquisa destaca como a combinação de monitoramento acústico e inteligência artificial pode ser uma ferramenta eficaz para a conservação de espécies ameaçadas, como o peixe-boi. A metodologia proposta se mostra uma alternativa econômica, escalável e confiável para monitorar ecossistemas de difícil acesso, como os da Amazônia. Além disso, o estudo pode ajudar a identificar áreas prioritárias para conservação e a avaliar os impactos de ameaças como a construção de hidrelétricas, promovendo estratégias mais eficazes de preservação.