O neurocientista Miguel Nicolelis defende que a inteligência e outros atributos cognitivos são propriedades orgânicas do cérebro humano, desafiando a analogia comum de que o cérebro funciona como um computador. Durante uma entrevista, Nicolelis explicou que, ao contrário dos computadores digitais, o cérebro opera com uma estrutura contínua e dinâmica, impossibilitando sua total reprodução por tecnologias digitais. Ele destacou que a aprendizagem altera fisicamente a microestrutura dos neurônios, o que reforça a complexidade e a adaptabilidade do cérebro humano.
Nicolelis, que atualmente preside o Instituto Nicolelis de Estudos Avançados do Cérebro, acredita que avanços como big data e mineração de dados são valiosos para o diagnóstico médico, mas alerta sobre os riscos de sistemas de IA que sugerem palavras e padrões, especialmente para crianças que estão em processo de aprendizagem. Para ele, essas tecnologias podem limitar o desenvolvimento linguístico, restringindo o vocabulário e a criatividade dos jovens.
O cientista também previu que a neurociência será uma das áreas mais influentes nas próximas décadas, com o potencial de transformar várias indústrias. Ele vê um futuro no qual a neurociência se conecta com diversas outras áreas do conhecimento, como computação, engenharia e matemática, podendo impactar de forma definitiva o futuro da humanidade. Segundo Nicolelis, a próxima grande onda de inovação científica virá do entendimento mais profundo do cérebro humano e suas interações com tecnologias emergentes.