Durante uma de suas primeiras viagens à Etiópia, no final dos anos 1980, o biólogo Claudio Sillero observou um comportamento inusitado nos lobos etíopes: eles lambiam flores vibrantes da planta red hot poker, também conhecida como kniphofia. Este comportamento, raramente documentado em mamíferos carnívoros, foi recentemente estudado e publicado na revista *Ecology*. A pesquisa revelou que os lobos, além de predadores, podem também contribuir para a polinização dessas plantas, transportando pólen em seus focinhos enquanto se alimentam do néctar doce das flores.
O estudo acompanhou seis lobos de diferentes matilhas durante quatro dias, observando o tempo que eles passavam lambendo as flores e acumulando pólen. Embora sua dieta principal seja composta por pequenos roedores, o néctar das flores parece complementar sua alimentação. A quantidade de pólen que se acumulava no focinho dos animais sugeriu que eles poderiam estar desempenhando um papel ativo na polinização, o que até então nunca havia sido registrado para um grande carnívoro. De acordo com os cientistas, o comportamento foi descrito como uma “sobremesa”, uma teoria que sugere que animais consomem recursos extras que apreciam, mas que não são essenciais para sua sobrevivência.
A descoberta tem implicações importantes tanto para a biologia da espécie quanto para os esforços de conservação. Os lobos etíopes, que estão entre os mamíferos mais ameaçados da África, têm sua população reduzida a apenas 454 indivíduos. Além de enfrentar a perda de habitat e doenças transmitidas por cães domésticos, os lobos desempenham um papel ecológico que pode ser crucial para a biodiversidade local. A pesquisa também ajuda a aumentar a visibilidade e o apoio à conservação da espécie, destacando não apenas sua importância como predadores, mas também sua contribuição para o ecossistema, ajudando a promover uma abordagem mais ampla para a preservação da fauna da região.