O julgamento de um caso envolvendo abusos sexuais em série, que durou mais de uma década, expôs a manipulação e conivência de diversas pessoas que participaram dos crimes sem saber da extensão da violência sofrida pela vítima. As 50 pessoas envolvidas, de diferentes idades, ocupações e origens, foram acusadas de agredir sexualmente uma mulher durante um período em que ela foi drogada e manipulada por seu próprio marido. O réu principal, que se declarou culpado, admitiu ser responsável pelos abusos, mas alegou que muitos dos acusados não sabiam da incapacidade da vítima de consentir, já que ela estava frequentemente dopada. No entanto, os advogados de defesa tentaram diminuir a gravidade das acusações, argumentando que os réus foram induzidos ou enganados.
A vítima, Gisèle Pelicot, que sobreviveu a essas agressões, é considerada um símbolo de resistência. Ela descreveu a violência que sofreu como sendo consciente, afirmando que, em nenhum momento, seus agressores estavam sendo forçados a participar. Durante o julgamento, muitos réus tentaram justificar seus atos, citando questões de caráter e dificuldades pessoais, incluindo abusos passados, depressão ou manipulação por parte do marido da vítima. No entanto, essas alegações não foram suficientes para absolver os acusados, e a maioria deles foi condenada a penas de prisão por estupro qualificado e outros crimes relacionados.
O julgamento não só trouxe à tona as circunstâncias do crime em si, mas também revelou o impacto devastador do silêncio e da falta de ação de testemunhas e envolvidos. Nenhum dos réus procurou ajuda das autoridades, mesmo cientes da situação da vítima, o que resultou em uma série de ataques prolongados e sistemáticos. O caso gerou um amplo debate sobre o consentimento, a responsabilidade individual e a manipulação em contextos de abuso, além de questionar até onde vai a responsabilidade de quem assiste à violência sem intervir.