Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) analisou mais de 79 mil denúncias de violência doméstica feitas entre 2011 e 2020 em todo o Brasil, a partir do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). A pesquisa identificou que o perfil predominante das vítimas de violência no campo é de mulheres negras, sem escolaridade, casadas, com idades entre 18 e 29 anos. A maior parte das agressões ocorre dentro de casa e é perpetrada por maridos ou companheiros, sendo a violência física o tipo mais comum, com destaque para espancamentos e ameaças.
A violência doméstica no meio rural é marcada por um alto grau de subnotificação, em grande parte devido ao isolamento das vítimas, que moram distantes de centros urbanos e têm pouco acesso a serviços de saúde, delegacias e outros recursos de apoio. Esse isolamento dificulta tanto a denúncia quanto o acesso a cuidados médicos ou proteção legal. Além disso, muitas mulheres enfrentam o controle financeiro dos agressores, o que torna ainda mais difícil buscar ajuda ou romper o ciclo de violência.
Embora os números oficiais de denúncias sejam significativos, especialistas afirmam que a quantidade real de casos de violência doméstica no campo é muito maior. Fatores como medo de represálias, distância de instituições de apoio e falta de autonomia financeira tornam a denúncia um desafio constante para as vítimas. O estudo também destaca a necessidade de ampliar a conscientização e melhorar a rede de apoio às mulheres que vivem em áreas rurais, para que possam romper o ciclo de violência e garantir seus direitos e segurança.