A Bolívia enfrenta uma crescente escassez de dólares, um problema que está impactando diretamente a inflação e o cotidiano da população. Após anos de políticas públicas que controlaram os preços dos alimentos e evitaram a alta inflacionária, o país agora enfrenta uma crise fiscal agravada pela queda nas exportações de gás, principal fonte de receita. Como resultado, as reservas internacionais do país caíram drasticamente, de US$ 15 bilhões em 2015 para cerca de US$ 1,9 bilhão, o que limitou a capacidade do governo de controlar a cotação do dólar e manter a estabilidade da moeda nacional. Isso gerou desconfiança no mercado, especialmente em um contexto de incertezas políticas entre o governo e lideranças anteriores.
A inflação boliviana atingiu 5,5% em setembro de 2024, um nível elevado para os padrões locais, gerando dificuldades para a população, que enfrenta aumento nos preços de produtos essenciais, como alimentos e combustíveis. A escassez de dólares também prejudica a importação de bens essenciais, como remédios e alimentos, e pressiona a economia interna. Para mitigar os efeitos, o governo adotou medidas como o uso das reservas internacionais e o controle de saques em moeda estrangeira, além de recorrer a subsídios para o setor de combustíveis e alimentos. No entanto, a redução das reservas e a falta de divisas dificultam a manutenção dessas políticas a longo prazo.
Além dos desafios econômicos, a situação é agravada por tensões políticas internas, especialmente entre o presidente Luis Arce e o ex-presidente Evo Morales. A instabilidade política resultante dessas disputas também afasta investidores estrangeiros, aprofundando a crise econômica. Ao mesmo tempo, o governo continua a implementar políticas para garantir o abastecimento interno, como a criação de empresas estatais para controlar os preços dos alimentos, embora especialistas acreditem que o controle cambial mais rígido poderia ser uma medida mais eficaz para enfrentar a escassez de dólares. A crise cambial da Bolívia é vista como resultado de um desequilíbrio entre a queda nas receitas de exportação e o aumento das despesas públicas nos últimos anos.