Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, destacou três principais obstáculos para a sustentabilidade das contas públicas do Brasil. O primeiro é a superestimação do ajuste fiscal pelo governo, que pode não ser suficiente para tranquilizar os mercados. Em segundo lugar, a crescente dívida pública bruta preocupa, pois os juros reais altos estão tornando mais difícil o crescimento econômico, e um superávit é necessário para estabilizar a dívida. Por fim, Padovani apontou a necessidade de fortalecer o arcabouço fiscal, que atualmente não está adequadamente alinhado com as despesas do Estado, principalmente aquelas indexadas à receita, como os gastos com saúde e educação.
Padovani também reconheceu os esforços do governo para conter os gastos, como a limitação do aumento do salário mínimo de acordo com os padrões do novo arcabouço fiscal, que estabelece uma correção de 2,5% mais a inflação, caso a economia cresça. No entanto, ele alertou para o risco de o crescimento de algumas despesas ultrapassar os limites do arcabouço fiscal, comprometendo o espaço para investimentos essenciais no futuro. A falta de uma articulação mais eficaz entre as despesas públicas e a sustentabilidade fiscal é um desafio importante que o governo ainda precisa enfrentar.
Em relação à aprovação do pacote fiscal no Congresso, o cientista político Lucas de Aragão observou que o governo teve dificuldades em articular a aprovação do texto, enfrentando resistência dentro de sua própria base. A aprovação rápida do pacote, no entanto, foi impulsionada pelos presidentes da Câmara e do Senado, que desempenharam um papel crucial para garantir a sua aprovação, apesar da desorganização percebida no processo. Esse cenário revela a complexidade das negociações políticas, que continuam a ser um fator determinante na implementação das reformas fiscais.