O dólar à vista teve uma forte alta nesta segunda-feira, 23 de dezembro, fechando a R$ 6,1851, o segundo maior valor nominal de fechamento da história. A moeda americana se valorizou em meio ao fortalecimento global do dólar e à saída de recursos do Brasil, típica do fim de ano. Apesar da intervenção do Banco Central na semana anterior, não houve ações no mercado cambial nesta data, limitando-se à rolagem de swaps cambiais. Operadores atribuem a fragilidade do real à persistente incerteza fiscal e à piora das expectativas de inflação, conforme apontado no Boletim Focus.
O cenário fiscal preocupa, especialmente após a desidratação do pacote de contenção de gastos aprovado pelo Congresso, o que levanta dúvidas sobre o cumprimento das metas fiscais para os próximos dois anos. Embora o presidente Lula tenha adotado um discurso mais conciliatório, ressaltando a autonomia do Banco Central e a busca por responsabilidade fiscal, há incertezas sobre a capacidade do Ministério da Fazenda de implementar medidas mais rígidas de austeridade. Além disso, o ministro Flávio Dino voltou a suspender a distribuição de emendas de comissão, o que pode dificultar a articulação política no Congresso.
A pressão sobre o câmbio é acentuada pelo fluxo de saída de dólares, que somou US$ 14,7 bilhões entre os dias 2 e 19 de dezembro, o maior valor registrado para o período na série histórica do Banco Central. Entre as razões para o alto fluxo negativo estão o pagamento de dividendos de empresas, o receio de aumento da tributação sobre os mais ricos e o maior envio de recursos ao exterior por pessoas físicas. A expectativa de analistas é de que o dólar se mantenha na faixa de R$ 6,10 a R$ 6,30, com os investidores ainda cautelosos diante das incertezas fiscais e políticas internas.