O cenário econômico brasileiro tem gerado estimativas cada vez mais divergentes entre os analistas financeiros, conforme evidenciado pelo Relatório Focus, que coleta as previsões de economistas sobre indicadores-chave, como a taxa Selic e a inflação. Em outubro, a maioria dos economistas projetava uma Selic de 11,25% a 11,75% ao final de 2024, mas, em novembro, a expectativa se desfez, com 43,4% dos respondentes apostando em um aumento da taxa. Para 2025, as previsões se tornaram ainda mais dispersas, refletindo a incerteza do mercado quanto à política fiscal e à postura do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Três fatores principais contribuem para essa incerteza: a dificuldade do governo em controlar a trajetória da dívida pública, o impacto da recente alta do dólar e a indefinição sobre as ações do futuro presidente da autoridade monetária. A economista Marcela Kawauti sugere que, diante dessa instabilidade, o Banco Central poderá adotar uma postura mais agressiva, aumentando a Selic para tentar conter a inflação e retornar às metas estipuladas, com uma previsão de inflação (IPCA) para 2025 acima dos 3% estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional.
O mercado também revisou suas projeções de inflação, com a maioria dos economistas prevendo uma alta do IPCA entre 3,78% e 4,86%, acima da meta oficial de 3% para o próximo ano. A confiança do mercado no governo tem se enfraquecido, especialmente após o anúncio de um pacote fiscal considerado insuficiente para enfrentar os desafios fiscais do país. A falta de compromisso claro com ajustes estruturais tem gerado desconfiança, o que tende a prolongar o período de incerteza econômica e dificultar a recuperação das expectativas no curto prazo.