O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer, durante sua participação no programa WW Especial, analisou a crescente desordem no cenário global, apontando que ela é resultado não apenas dos riscos, mas, principalmente, da incerteza. Lafer explicou que essa incerteza tem origem em fatores imprevisíveis, desafiando os paradigmas estabelecidos após a Segunda Guerra Mundial, quando os cálculos de racionalidade e dissuasão nuclear predominavam nas relações internacionais. Ele destacou que, diante das transformações no cenário geopolítico, como os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, a lógica de previsibilidade parece cada vez mais distante.
Em sua reflexão, o ex-ministro também abordou a perspectiva dos realistas nas relações internacionais, que frequentemente assumem a inevitabilidade da tragédia, dada a experiência histórica com regimes totalitários e a Segunda Guerra Mundial. Ele comentou sobre a obra de Henry Kissinger, que explora essa visão, destacando a importância da diplomacia como ferramenta para evitar o uso da força. A distinção feita entre o diplomata e o soldado foi outro ponto central da discussão, com Lafer enfatizando que o diplomata busca alternativas pacíficas para resolver conflitos, ao contrário do soldado, que recorre ao uso da força.
Por fim, Lafer abordou os novos desafios que surgem com as transformações nos conflitos armados. Ele caracterizou a guerra como um “camaleão”, que assume novas formas, exigindo uma análise mais complexa sobre a racionalidade estratégica. A relação entre risco e incerteza foi central em sua fala, com Lafer ressaltando que, enquanto o risco pode ser calculado, a incerteza escapa a qualquer tipo de mensuração, o que torna os cenários globais ainda mais difíceis de serem compreendidos e previsíveis.