A música “Noturno”, composta por Almerinda Farias Gama, uma sufragista e ativista alagoana, emociona ao ser tocada por Renata Sica, professora de piano, para sua aluna Maria José Febraro. Almerinda, que foi uma mulher negra e trabalhadora, ficou em grande parte invisibilizada pela história, mas agora sua obra está sendo redescoberta, especialmente através das partituras encontradas pela pesquisadora Cibele Tenório. As partituras, que estavam guardadas na Escola Nacional de Música da UFRJ, incluem composições variadas que refletem tanto a luta e o sofrimento de Almerinda quanto suas paixões, como o piano e o ativismo.
Cibele Tenório, que iniciou sua pesquisa sobre Almerinda como parte de seu doutorado, se emocionou ao revelar essas partituras, destacando a importância histórica de Almerinda tanto como compositora quanto como pioneira na luta pelos direitos das mulheres e pela emancipação feminina. Almerinda, que aprendeu piano na infância, teve sua vida marcada por desafios, mas sempre demonstrou uma ligação profunda com a música. Sua obra é um testemunho da sua resistência e de sua capacidade de transformar sofrimento em arte, uma característica comum entre as mulheres negras de sua época, para quem a sobrevivência muitas vezes se sobrepunha à arte.
A descoberta das partituras e a interpretação das músicas por pianistas como Renata Sica e outros membros do Instituto do Piano Brasileiro têm dado nova vida a essa parte da história. O ecletismo das composições de Almerinda revela sua mente criativa e revolucionária, que, mesmo sem o privilégio da educação formal, continuou a fazer música durante toda a sua vida. A trajetória de Almerinda serve como fonte de inspiração tanto para a professora Renata quanto para sua aluna Maria José, que vê na história da compositora um reflexo de sua própria luta e um símbolo de superação, reafirmando o poder transformador da educação e da arte.