O recente aumento do dólar e a atual desvalorização da moeda brasileira têm gerado preocupações sobre os impactos inflacionários no país. O fenômeno, conhecido como “pass through”, refere-se ao repasse do câmbio para os preços ao consumidor, que tem sido mais forte do que em períodos anteriores. Esse efeito está diretamente relacionado a uma economia que opera acima de sua capacidade, com a demanda pressionando a oferta. Incertezas políticas e fiscais também intensificam esse efeito, tornando a dinâmica cambial mais volátil e potencialmente mais prejudicial para o consumidor.
Economistas observam que o pass through cambial aumentou significativamente nos últimos anos. Antes da pandemia, esse repasse era estimado em cerca de 6% a 7%, mas atualmente, o impacto pode alcançar até 10%. A desvalorização do real tem um efeito mais rápido e perceptível nos preços de bens industriais e alimentos, com estimativas apontando um aumento de até 1 ponto percentual no IPCA para cada 10% de desvalorização. No entanto, o impacto nos serviços é menor, refletindo uma dinâmica de mercado distinta, onde a sensibilidade ao câmbio é reduzida.
A velocidade do repasse também tem se acelerado. Análises indicam que, enquanto antes esse efeito demorava até um ano para se refletir completamente nos preços, agora esse impacto ocorre em um período muito mais curto, com alguns itens ajustando seus preços já dentro de um trimestre. A desvalorização recente do câmbio (de R$ 5,80 para R$ 6) só deve ser sentida em sua totalidade no início de 2025, com a projeção de inflação para 2024 estimada em 4,9%. Contudo, o impacto mais forte será sentido nos próximos anos, com alimentos e bens industriais liderando o aumento dos preços.