A história de Almerinda Farias Gama, sufragista, sindicalista e compositora, foi redescoberta através de uma pesquisa de Cibele Tenório, que localizou partituras inéditas de suas músicas na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Almerinda, que viveu entre 1899 e 1999, foi uma trabalhadora alagoana que dedicou parte de sua vida à luta pelos direitos das mulheres e à música. Embora tenha aprendido piano na infância, ela se afastou do instrumento por motivos de sobrevivência, e só na velhice voltou a se dedicar à composição, criando mais de 90 obras que refletiam temas como amor, lendas amazônicas e canções de ninar.
A descoberta das partituras emocionou tanto a pesquisadora quanto a pianista Renata Sica, que, junto de sua aluna Maria José Febraro, de 75 anos, passaram a interpretar as músicas de Almerinda. Para Maria José, que também conheceu o piano na infância, mas foi desestimulada pelos patrões da mãe empregada doméstica, a redescoberta de Almerinda se tornou uma fonte de inspiração. Ao ouvir as peças, ela vê na trajetória de Almerinda um reflexo de sua própria luta e resistência, reforçando o poder da música como meio de expressão e afirmação.
A história de Almerinda também revela a importância da educação e da oportunidade para o desenvolvimento das aptidões artísticas, especialmente entre mulheres negras, que historicamente enfrentam maiores desafios para acessar a arte. A pesquisa de Cibele, com o apoio do Instituto do Piano Brasileiro, trouxe à tona não só a obra musical, mas também a força e a resistência de Almerinda como uma mulher que, apesar das adversidades, se manteve fiel aos seus sonhos. Ao resgatar sua música, a pesquisa celebra não só o legado artístico, mas também a trajetória de luta e superação de uma mulher que contribuiu de forma significativa para a cultura brasileira.