O diplomata aposentado José Alfredo Graça Lima, com vasta experiência nas negociações entre o Mercosul e a União Europeia, critica a ideia de um “livre comércio” no acordo recentemente anunciado. Ele explica que, embora o acordo busque facilitar o comércio entre as duas regiões, com a redução de barreiras tarifárias, ele não é totalmente livre, pois inclui quotas de importação e exportação, além de tratamentos diferenciados para setores como o agrícola e o industrial. Para Graça Lima, o impacto real do acordo será mais político do que econômico, já que as condições acordadas, como a liberalização gradual do setor automotivo e o tratamento específico para minerais críticos, ainda são limitadas e pouco ambiciosas.
O acordo, que se arrasta há mais de duas décadas de negociações, visa facilitar o acesso ao mercado entre o Mercosul e a União Europeia, mas encontra resistência, especialmente por parte de países europeus como a França. A principal preocupação gira em torno do setor agrícola, onde há uma pressão interna contra a concorrência de produtos do Mercosul, o que tem dificultado o consenso. Embora o acordo traga benefícios em áreas como os bens industriais, a França, por exemplo, se opõe devido ao impacto que pode ter sobre os agricultores locais, com receios de que não consigam competir com os preços mais baixos de produtos importados.
Por fim, a ratificação do acordo ainda está longe de ser concluída, pois depende da aprovação tanto pelos parlamentos nacionais do Mercosul quanto pelo Parlamento Europeu, onde alguns países podem vetá-lo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que o novo acordo é mais vantajoso para o Brasil do que o proposto em 2019, especialmente no que diz respeito à proteção de políticas públicas e ao setor industrial. No entanto, Graça Lima aponta que, embora o acordo possa beneficiar o consumidor com a redução de preços de alguns produtos, os impactos reais para as populações mais pobres do Mercosul ainda são incertos.