O suicídio assistido, tema discutido em um evento promovido pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, é cercado por um tabu social que dificulta o debate sobre o processo de morrer e a autonomia do paciente. Para especialistas como o professor de Direito Rafael Esteves Frutuoso, a resistência vem de uma fuga da sociedade da discussão sobre a morte, o que reflete em atitudes paternalistas no campo médico. A partir disso, surge a necessidade de planejar cuidados que considerem os melhores interesses do paciente, não apenas durante a vida, mas também no fim dela, quando muitas vezes o paciente perde sua autonomia.
A obstinação terapêutica é um conceito central na crítica de médicos e geriatras sobre a forma como pacientes terminais são tratados. Muitas vezes, pacientes com doenças irreversíveis e em fase terminal são submetidos a tratamentos agressivos, sem perspectivas de melhoria. Isso ocorre mesmo quando a vontade do paciente, expressa por meio de diretivas antecipadas de vontades, é ignorada. A falta de uma abordagem mais humanizada e focada no conforto do paciente é vista como um problema crescente, principalmente entre os idosos, que enfrentam doenças graves e sofrimento físico intenso.
O debate também considera o impacto psicológico da morte social, em que a pessoa, antes de falecer biologicamente, perde seu papel na sociedade e sua sensação de relevância. Este fenômeno, que pode durar meses ou até anos antes da morte física, deve ser levado em conta nas discussões sobre o fim da vida, segundo especialistas. Exemplos como o do cientista David Goodall, que se submeteu ao suicídio assistido na Suíça aos 104 anos, ilustram a complexidade da questão, destacando a importância de permitir ao indivíduo a decisão sobre sua própria morte, dentro de um contexto ético e legal.