O cinema de Susanna Lira tem como foco central as mulheres e suas histórias, abordando questões sociais e individuais com um olhar atento ao coletivo. Em seu mais recente documentário, Fernanda Young – Foge-me ao Controle, Lira apresenta a escritora e performer Fernanda Young (1970-2019) sob uma nova perspectiva, explorando sua complexidade e o processo criativo de uma figura tão multifacetada quanto controversa. Lançado no festival É Tudo Verdade e premiado pela sua montagem, o filme destaca as inquietações de Fernanda, desde sua busca pelo reconhecimento como escritora até suas reflexões sobre o tempo, o amor e a morte.
No documentário, Lira evita o formato tradicional de entrevistas e “cabeças falantes”, buscando uma abordagem mais intimista e reflexiva. A voz de Maria Ribeiro narra as palavras de Young, enquanto imagens e montagens exploram a visão de Susanna sobre a autora, que, apesar de bem conhecida, permaneceu muitas vezes à margem do reconhecimento acadêmico e da crítica literária. O filme também reflete sobre a luta de Fernanda contra o preconceito de gênero, que foi um tema recorrente em sua vida e obra, e destaca seu legado como escritora, embora ela tenha sido premiada apenas postumamente com o Jabuti de crônica.
Fernanda Young, conhecida por suas provocações e sua escrita irreverente, fez história ao expor sua própria fragilidade e complexidade, tanto em seus livros quanto em sua vida pública. Susanna Lira, ao investigar e reinterpretar a autora, não só faz um tributo a sua obra como também contribui para o reconhecimento de uma mulher que, apesar de sua genialidade, enfrentou desafios pessoais e profissionais. O documentário, que também se destaca pela profundidade emocional e estética, já está disponível para o público, oferecendo um olhar renovado sobre uma das escritoras mais inovadoras do Brasil.