A discussão sobre a redução da jornada de trabalho de 6×1 para 4×3 no Brasil, proposta em tramitação no Congresso, tem gerado controvérsias. A medida busca ampliar o período de descanso dos trabalhadores sem redução salarial, mas carece de estudos que avaliem sua viabilidade e impactos em setores econômicos específicos. Inspirada na teoria do “ócio criativo” de Domenico De Masi, que valoriza a criatividade e a inovação em sociedades automatizadas, a proposta enfrenta a realidade brasileira, marcada por baixos índices de produtividade e profundas desigualdades econômicas e educacionais.
Historicamente, o Brasil tem enfrentado desafios na regulamentação das relações trabalhistas desde a CLT de 1943, período de transição de uma economia rural para industrial. A informalidade e a falta de qualificação continuam sendo obstáculos significativos, com apenas 46,6 milhões de trabalhadores com carteira assinada em um país com alta dependência de auxílios governamentais. A precariedade educacional, refletida no desempenho insatisfatório dos estudantes brasileiros em rankings globais, levanta dúvidas sobre a capacidade de o país transformar o tempo livre em ganho de produtividade.
No setor financeiro, exemplos como a assessoria de investimentos ilustram como maior dedicação pode gerar resultados expressivos, especialmente durante a pandemia, quando houve aumento no número de investidores e transações na B3. No entanto, setores que dependem de trabalho menos qualificado e com baixa capacitação enfrentariam dificuldades para adaptar-se à redução da jornada. A medida, sem planejamento e melhorias estruturais em áreas como educação e produtividade, pode gerar mais problemas do que soluções no contexto brasileiro.