Uma pesquisa realizada entre março de 2023 e setembro de 2024, com a participação de mais de 500 mulheres do Complexo da Maré, revela dados alarmantes sobre o aborto na comunidade. Segundo o estudo da ONG Redes da Maré, uma em cada seis mulheres da região já realizou um aborto até os 40 anos. O relatório, que será apresentado em um evento na comunidade, destaca que muitas mulheres engravidam de forma não planejada enquanto aguardam acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) para procedimentos contraceptivos, como a inserção de DIU.
Entre os fatores que levam ao aborto, a pesquisa aponta a falta de recursos financeiros, a ausência de apoio para criar os filhos e o difícil acesso a serviços de saúde. Um dos relatos presentes no estudo descreve a experiência de uma mulher de 25 anos que, após quase uma década de tentativas frustradas para obter contracepção e exames, engravidou enquanto aguardava na fila para colocar o DIU. Sua história ilustra as dificuldades enfrentadas pelas mulheres da Maré, muitas das quais só recebem acompanhamento médico durante a gravidez, quando o acesso à saúde é mais limitado.
Os dados do levantamento mostram que, de cada 10 mulheres que já passaram por aborto, 8 têm filhos. Além disso, 40% das mulheres que abortaram precisaram de internação hospitalar devido a complicações, como o uso inadequado de medicação abortiva. O relatório aponta a falta de políticas públicas eficazes de contracepção e propõe treinamentos para profissionais de saúde sobre direitos sexuais e reprodutivos, além de uma maior valorização da maternidade no contexto social e econômico.