Uma pesquisa conduzida pela socióloga Elena Portacolone, da Universidade da Califórnia em San Francisco, revelou a difícil realidade de idosos que vivem sozinhos e enfrentam o declínio cognitivo. Em suas visitas, Portacolone constatou que muitos desses indivíduos, apesar de não se lembrarem de compromissos previamente marcados, seguiam morando sem nenhum suporte próximo. Estima-se que, nos Estados Unidos, mais de 4,3 milhões de pessoas com 55 anos ou mais convivam com a demência sem assistência direta, representando cerca de 25% da população com comprometimento cognitivo. Dentre elas, metade enfrenta dificuldades para realizar tarefas básicas do dia a dia, como tomar banho, se alimentar ou lidar com dinheiro, mas somente um terço recebe algum tipo de ajuda.
Esse grupo, segundo Portacolone, encontra-se em uma espécie de limbo, já que o sistema de saúde presume que todo idoso conta com apoio familiar ou de um cuidador. A deterioração da memória e do raciocínio eleva o risco de isolamento, negligência própria e até desnutrição. A situação é agravada pelo medo de admitir a necessidade de ajuda ou a dificuldade em confiar em outros para suas necessidades mais essenciais. A equipe de Portacolone vem estudando aproximadamente cem idosos com demência que vivem sozinhos, identificando suas maiores preocupações, que incluem a incerteza de quem procurar quando precisarem de assistência e o medo de perder a independência.
O Conselho Nacional de Mentes com Demência (National Council of Dementia Minds) criou um grupo on-line em 2023 para pessoas nessas condições, como Kathleen Healy, uma ex-funcionária pública de 60 anos que teve que se aposentar devido ao declínio de suas capacidades cognitivas. Ela destacou que, apesar de sua casa estar desorganizada ou suas contas ficarem por pagar, sua condição muitas vezes passa despercebida. A realidade de Healy reflete a de muitos que, mesmo tendo alguma renda, não possuem redes de apoio próximas, o que evidencia um problema crescente e ainda invisível para a sociedade e os sistemas de saúde.