O governo federal entra na terceira semana de discussões sobre um pacote de cortes de gastos destinado a garantir a sustentabilidade do arcabouço fiscal, mas ainda sem um anúncio oficial das medidas. Após sinalizações de que as propostas seriam apresentadas na semana anterior, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, permanece em Brasília a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para coordenar a equipe econômica em meio à pressão inflacionária e à valorização do dólar. Apesar do compromisso do governo com a aprovação das medidas, questões políticas, como a ausência de consenso entre os ministros e a necessidade de apoio do Congresso, complicam o processo, especialmente diante de resistências dos ministros das pastas potencialmente afetadas.
A proposta de ajuste fiscal, defendida por economistas e investidores como necessária para conter o crescimento da dívida pública e evitar elevações adicionais nos juros, gera expectativas e tensões no mercado financeiro. Os efeitos desse cenário já se refletem na alta do dólar e dos juros futuros, bem como na queda da bolsa de valores, fatores que dificultam ainda mais a gestão fiscal do governo. Com a pressão dos gastos obrigatórios, como a Previdência Social, há receios de que despesas essenciais para políticas públicas, como bolsas de estudo e o Farmácia Popular, fiquem comprometidas a médio e longo prazo, caso o ajuste não seja implementado.
No entanto, o plano enfrenta oposição de grupos sociais e acadêmicos, que questionam a eficácia de políticas de austeridade em um contexto onde os direitos sociais já são limitados. Um manifesto foi lançado com o apoio de figuras acadêmicas, comunicadores e parlamentares, defendendo a revisão do arcabouço fiscal para proteger e ampliar os direitos sociais. A tensão entre os esforços de ajuste fiscal e as demandas por preservação dos direitos sociais reflete o desafio político de implementar cortes que possam impactar diretamente as camadas mais vulneráveis da população.