O Exército Brasileiro tem sido um ator político central ao longo da história do país, com uma trajetória marcada por episódios como a Proclamação da República, a Revolução de 1930, a deposição de Getúlio Vargas em 1945 e o golpe de 1964. A presença dos militares nas esferas políticas e suas ações recentes, incluindo tentativas de golpe, têm levado estudiosos a reavaliar a formação acadêmica e ideológica das Forças Armadas. Ana Amélia Penido, pesquisadora e autora de um estudo sobre a formação militar, aponta que as escolas militares são estruturadas para criar uma identidade profundamente diferenciada da sociedade civil, o que pode influenciar visões de mundo que se alinham com o golpismo.
Penido destaca que a educação militar no Brasil, além de distanciada do currículo civil, privilegia a formação hierárquica e disciplinar, com ênfase em práticas simbólicas e na criação de um forte sentimento de superioridade entre os militares em relação aos civis. Esse processo de formação é descrito como um mecanismo de autorreprodução simbólica, no qual a ideia de que os militares são superiores à sociedade civil se traduz em uma mentalidade de imposição de suas próprias visões sobre o resto da população. A pesquisadora também sugere que, embora o Exército, a Marinha e a Aeronáutica tenham características distintas, a falta de maior interlocução com a sociedade civil e o fortalecimento da cultura militar pode contribuir para a perpetuação de atitudes autoritárias.
Em sua análise, Penido argumenta que a formação dos militares no Brasil é altamente influenciada pela tradição e pela memória institucional, com ênfase em episódios como a Batalha de Guararapes, que são apresentados como fundadores do Exército. Isso contribui para a construção de um sentimento de pertencimento e poder que se reflete em sua atuação política. Além disso, ela aponta que a dependência ideológica e material das Forças Armadas brasileiras em relação aos Estados Unidos tem desempenhado um papel importante na formação das doutrinas militares do país, fortalecendo a influência externa no desenvolvimento da defesa nacional. A pesquisadora conclui que a educação militar deve ser subordinada ao sistema educacional civil, para garantir maior integração e alinhamento com os valores democráticos.