Dados inéditos revelam que, desde 2021, uma média de 43,9 mil crianças e adolescentes de até 17 anos perderam ao menos um dos pais no Brasil a cada ano, com um aumento significativo em 2023. O levantamento, realizado pelos Cartórios de Registro Civil e pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), é o primeiro a consolidar informações sobre óbitos de pais e registros de nascimento de filhos, o que só foi possível após a obrigatoriedade da inclusão do CPF dos pais nos registros de nascimento, a partir de 2019. A pesquisa aponta também que, desde o início da pandemia, o número de órfãos aumentou substancialmente, com cerca de 13,8 mil crianças e adolescentes perdendo pelo menos um dos pais devido à Covid-19 até 2023.
A análise também aponta que, em 2023, o Brasil registrou 47.813 órfãos, número que se manteve elevado em 2024, com 47.443 casos até outubro. As mortes causadas pela Covid-19, assim como suas complicações e outras doenças relacionadas, foram fatores determinantes no crescimento desse número. O estudo também revelou que 188 crianças perderam ambos os pais devido à Covid-19, com esse número podendo chegar a 340 quando consideradas outras doenças associadas ao vírus. Além disso, a pesquisa mostrou um aumento nos óbitos relacionados a infarto, AVC e pneumonia, impactando ainda mais o cenário de vulnerabilidade.
Psicólogos especializados em luto ressaltam que a perda de um pai ou mãe pode afetar cada criança de forma única, dependendo de seu desenvolvimento e das condições familiares. Em muitos casos, a adaptação à nova realidade requer apoio contínuo da rede de apoio familiar e social, o que pode ser desafiador para aqueles que enfrentam a perda de ambos os pais ou a mudança brusca de responsáveis. A especialista em luto, Maria Helena Franco, destaca que, embora o luto seja um processo individual, ele exige sensibilidade e cuidados específicos para garantir a segurança e bem-estar das crianças em luto.