A 11ª Mostra de Cinema de Gostoso, no Rio Grande do Norte, foi inaugurada com o documentário Kubrusly – Mistério Sempre Há de Pintar por Aí, de Caio Cavechini e Evelyn Kuriki, que aborda a trajetória e os desafios do jornalista que dá nome à obra. Kubrusly, diagnosticado com demência frontotemporal, não se recorda mais de sua vida e carreira, mas o filme evita um tom depressivo, optando por celebrar seu legado e explorar o mistério da identidade frente à perda da memória. Com imagens do presente e registros de sua atuação profissional, a obra convida o espectador a refletir sobre a resiliência e o significado de ser lembrado pelos outros.
O documentário é comparado a A Memória Infinita, da chilena Maite Alberdi, que trata de situação similar vivida por outro casal. Ambos os filmes destacam a força e o apoio das mulheres que acompanham os maridos em suas jornadas. Sem apelar para autopiedade ou sentimentalismo, as narrativas valorizam o humor e a celebração das contribuições desses homens, mesmo diante dos efeitos devastadores de suas condições de saúde. São histórias de resistência emocional, nas quais o riso e o carinho servem como alento em momentos desafiadores.
Além de resgatar o legado de Kubrusly, o filme promove uma reflexão sobre o envelhecimento e o impacto do etarismo, especialmente quando um ente querido perde sua memória, mas continua vivo na lembrança daqueles que o cercam. A presença da música e de momentos de afeto reforça a ideia de que, apesar da doença, o mistério da identidade humana permanece profundo e inabalável. Gilberto Gil, em uma frase emblemática, resume essa complexidade: “Foi você e não foi você”, encapsulando o paradoxo de alguém que é e ao mesmo tempo deixou de ser quem foi.