A desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo, destacou em entrevista que o combate ao crime organizado no Brasil exige mais que penas severas, apontando a necessidade de um sistema de Justiça robusto e eficaz. Ivana, que atua há décadas em casos de organizações criminosas, afirmou que o problema não reside na falta de punição — há lideranças com penas de centenas de anos —, mas sim nas falhas no cumprimento das sentenças. A complexidade do sistema prisional e a corrupção também foram citadas como desafios que comprometem o encarceramento de alto risco.
Segundo Ivana, brechas jurídicas e diferentes interpretações legais possibilitam a redução de penas, o que permite que condenações inicialmente longas sejam diminuídas significativamente. Ela destacou que São Paulo conta com 22 lideranças de facções criminosas em presídios federais, comprovando uma estrutura capaz de lidar com criminosos de alta periculosidade. Ainda assim, a magistrada advertiu que a efetividade do sistema penal depende de uma abordagem mais ampla e menos vulnerável a ajustes e interpretações legais que favorecem a redução de penas.
A desembargadora abordou ainda o agravamento do tráfico de drogas no Brasil, que passou de corredor para consumo e agora ocupa a posição de segundo maior consumidor mundial de cocaína. Ela apontou as dificuldades em controlar a extensa fronteira seca do país, que facilita a entrada de drogas das nações vizinhas, bem como o desafio em conter a saída pelas rotas marítimas. Em suas conclusões, Ivana enfatizou a necessidade de um enfrentamento multifacetado e um olhar atento para as fragilidades do sistema de justiça brasileiro no combate ao poder das organizações criminosas, reconhecendo a atuação do Judiciário mas destacando a expansão das facções criminosas no território nacional.