Dados do boletim “Pele Alvo,” publicado pela Rede de Observatórios da Segurança, revelam um aumento expressivo nas mortes decorrentes de ações policiais em Pernambuco em 2023. Segundo o levantamento, 117 pessoas morreram no estado em decorrência de conflitos com a polícia, representando um aumento de 28,6% em relação a 2022. Das vítimas, 95,7% eram negras, expondo um padrão de vulnerabilidade racial nas abordagens policiais. Este aumento é o mais elevado entre os nove estados analisados, incluindo Bahia, Ceará, Amazonas, Maranhão, Pará, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.
A pesquisadora Dália Celeste, da Rede de Observatórios, atribui esses números a fatores como a falta de protocolos claros sobre o uso da força policial e a ausência de fiscalização efetiva da conduta dos agentes de segurança. Ela destaca que a política de segurança pública em Pernambuco foca em operações intensivas de combate ao crime, mas não oferece medidas suficientes para proteger os direitos humanos ou regular as ações policiais. Recentes episódios envolvendo mortes em confrontos com a polícia reacenderam o debate sobre a necessidade de protocolos que reduzam a letalidade policial no estado.
Além disso, a pesquisadora aponta que a população negra é desproporcionalmente afetada por esse cenário, em grande parte devido ao racismo estrutural e ao padrão de operações policiais intensivas em áreas periféricas. Celeste critica o programa “Juntos pela Segurança” do governo estadual por não contemplar questões raciais em suas estratégias, reforçando a importância de um policiamento comunitário que promova uma abordagem colaborativa com as comunidades. Ela adverte que, sem uma política de proximidade e cooperação, o programa pode, na verdade, agravar a violência nos bairros periféricos de Pernambuco.