Campinas, importante centro econômico brasileiro no século XIX, destacou-se como o município com maior número de escravizados na província de São Paulo, conforme o censo de 1872. Dos 31.397 habitantes, 43,6% eram escravizados, refletindo a intensa demanda por mão de obra na agroexportação, especialmente no cultivo do café. A alta proporção de pessoas escravizadas na região evidencia a centralidade da escravidão na estrutura socioeconômica local e no desenvolvimento da cidade.
Os efeitos da escravidão, no entanto, ultrapassaram sua abolição em 1888. A falta de políticas de inclusão pós-abolicionista deixou muitos libertos marginalizados, sem acesso a moradia, trabalho ou educação. Mesmo entre os negros livres, estigmas sociais e exclusão econômica eram recorrentes, reforçando preconceitos e dificultando a inserção plena na sociedade. Mulheres negras, por exemplo, continuaram predominantemente vinculadas ao trabalho doméstico, perpetuando desigualdades que atravessam gerações.
Essas condições históricas consolidaram o racismo estrutural e cultural que ainda afeta o Brasil. Em Campinas, a associação da negritude à escravidão contribuiu para a construção de barreiras sociais que permanecem até hoje. Pesquisadores destacam que a escravidão não apenas configurou o desprezo por trabalhos manuais, mas também influenciou as dinâmicas sociais e econômicas que dificultam a superação das desigualdades, tornando essencial a reflexão sobre o legado histórico para promover mudanças significativas.