As possíveis tarifas de 60% sobre produtos chineses prometidas pelo ex-presidente Donald Trump, caso reeleito, apresentam sérios riscos para a já fragilizada economia da China. O cenário atual é mais delicado do que durante seu primeiro mandato, quando as tarifas variavam entre 7,5% e 25%, uma vez que a China enfrenta uma série de desafios internos, incluindo a crise imobiliária, que desestruturou as finanças dos governos locais. O setor imobiliário, outrora fundamental para o crescimento econômico chinês, atravessa um declínio acentuado desde 2021, o que reduz a capacidade da economia de absorver choques externos.
Além disso, o endividamento dos governos locais e a baixa demanda interna dificultam ainda mais a reação da China diante de uma potencial elevação das tarifas. Com uma dívida pública crescente, que deve ultrapassar três vezes o tamanho da economia em 2023, o país encontra-se limitado em sua capacidade de estimular o consumo e investir em setores críticos para manter o crescimento. As políticas de estímulo, focadas majoritariamente na manufatura e em tecnologias como veículos elétricos, embora bem-sucedidas, não conseguem compensar a fraca demanda externa, deixando a economia vulnerável a pressões deflacionárias.
Outro desafio significativo é o espaço limitado para uma depreciação adicional do iuan, estratégia usada anteriormente para compensar os efeitos das tarifas. Com o câmbio já pressionado, uma desvalorização suficiente para absorver uma tarifa de 60% pode ser inviável, comprometendo a competitividade das exportações chinesas. A situação é ainda agravada pela falta de estímulos externos, como os observados durante a pandemia e a crise ucraniana, que temporariamente aumentaram a demanda por produtos chineses. Esses fatores sublinham a vulnerabilidade da China a possíveis políticas comerciais mais agressivas por parte dos EUA, especialmente em um cenário global incerto.