O encarceramento é identificado como o principal fator de risco para a tuberculose na América Latina, conforme estudo publicado na revista The Lancet. Realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com instituições de vários países, a pesquisa analisou dados de seis nações entre 1990 e 2023, revelando que em 2019, 27,2% dos novos casos de tuberculose estavam relacionados à privação de liberdade, superando outros fatores como HIV e desnutrição. No Brasil, esse número chega a 36,9%, evidenciando a gravidade da situação em comparação com outros países da região.
O estudo também destaca que a população carcerária na América Latina quase quadruplicou nos últimos 30 anos, criando um ambiente propício à transmissão da doença devido a condições como superlotação e acesso limitado a cuidados de saúde. Os pesquisadores sugerem que intervenções na taxa de encarceramento poderiam reduzir significativamente a incidência de tuberculose, propondo uma redução de 50% nas taxas de entrada e duração do encarceramento, o que traria benefícios substanciais à saúde pública nos países analisados.
Além disso, o estudo ressalta a necessidade urgente de estratégias para enfrentar a crise sanitária nos presídios. Embora existam recomendações do Ministério da Saúde do Brasil para a triagem em massa da tuberculose nas prisões, na prática, essas medidas ainda são insuficientes. A falta de equipe e acesso a testes diagnósticos impede que muitos detentos recebam o diagnóstico e tratamento adequados, reforçando a importância de ações integradas entre ministérios da saúde e justiça para mitigar os riscos de transmissão da doença no sistema prisional.