Desde que o Talebã reassumiu o controle do Afeganistão, milhares de casos judiciais, incluindo divórcios, foram anulados sob a nova interpretação da sharia. Bibi Nazdana, uma jovem que conquistou seu divórcio após uma longa batalha legal, viu sua vitória desfeita em menos de dez dias após a tomada de Cabul pelo grupo. A jovem, que havia sido prometida em casamento desde os sete anos, se viu obrigada a fugir do país após seu ex-noivo reverter a decisão do tribunal. O Talebã, em sua política de rever decisões anteriores, tem silenciado as vozes femininas e retirado o espaço das mulheres no sistema judicial afegão.
As novas autoridades alegam que cerca de 355 mil casos foram revisados desde a volta ao poder, com 30% relacionados a questões familiares. No entanto, essas revisões têm sido criticadas por especialistas e ex-juízas, que afirmam que a anulação de veredictos prejudica os direitos das mulheres e perpetua a desigualdade. O Talebã argumenta que os tribunais anteriores não eram suficientemente islâmicos, enquanto implementam sua própria interpretação da lei Hanafi Fiqh, que tem raízes históricas e é considerada por muitos como desatualizada em relação às necessidades contemporâneas.
A ex-juíza Fawzia Amini expressa sua preocupação com o futuro das mulheres sob o regime talibã, ressaltando que sem juízas, as conquistas alcançadas em décadas de luta por direitos não têm chances de continuidade. Enquanto isso, Nazdana aguarda apoio em um país vizinho, carregando seus documentos de divórcio e questionando onde está a assistência para garantir sua liberdade e direitos como mulher. A falta de resposta das autoridades e organismos internacionais tem intensificado seu desespero e a sensação de abandono.