O diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Gomes, destacou a necessidade de um choque fiscal de longo prazo para alterar significativamente as expectativas de inflação no Brasil. Ele observou que a desaceleração prevista para os gastos públicos no segundo semestre não deverá ter um impacto substancial nas projeções inflacionárias. Gomes enfatizou a importância de assegurar aos investidores a sustentabilidade do arcabouço fiscal e a convergência da dívida pública como fatores cruciais para influenciar as expectativas.
Gomes também abordou a incerteza em relação à política fiscal futura, que contribui para a desancoragem das expectativas de inflação, mencionando fatores como choques de oferta nos preços de energia e alimentos, e a pressão nos preços das proteínas devido a mudanças no ciclo do gado. Além disso, a depreciação da taxa de câmbio tem pressionado os preços de produtos comercializáveis, afetando a dinâmica dos preços industriais.
O diretor do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo Valdés, corroborou os desafios enfrentados pela consolidação das contas públicas no Brasil, ressaltando que muitas despesas são obrigatórias e, portanto, politicamente difíceis de manejar. Ele reiterou a importância de uma abordagem integrada entre a consolidação fiscal e a política monetária, a qual pode atenuar os efeitos adversos sobre o crescimento econômico e permitir a redução das taxas de juros, aspectos fundamentais para a estabilidade da dívida pública, que o FMI estima que pode atingir 94,7% do PIB até 2026.