A cúpula entre os chefes de Estado e representantes do Brics, marcada para esta quarta-feira (23), reflete o fortalecimento do grupo em torno de uma proposta de resistência ao Ocidente. Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper, enfatiza que o Brics surge como uma alternativa aos sistemas estabelecidos pelas instituições criadas na Conferência de Bretton Woods, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Esses organismos, segundo Dumas, não atendem adequadamente às demandas dos países emergentes, que se sentem sub-representados nas decisões globais.
O cenário atual remete ao contexto pós-Segunda Guerra Mundial, quando 44 países se uniram para reestruturar o sistema financeiro internacional em resposta a crises econômicas significativas. As decisões tomadas na época, que incluíram a fixação de taxas de câmbio atreladas ao dólar, mantiveram-se relevantes até o colapso do padrão dólar-ouro em 1971. No entanto, Dumas argumenta que as instituições derivadas dessa conferência não evoluíram para lidar com as necessidades contemporâneas, levando à criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) em 2014, que visa promover investimentos nos países emergentes e reduzir a dependência do dólar.
Com a inclusão recente de novos membros, como Irã e Arábia Saudita, o Brics se afirma como um grupo que desafia a hegemonia ocidental, promovendo uma visão multipolar do mundo. Dumas conclui que essa dinâmica sugere uma transformação nas relações internacionais, onde diversos países desempenham papéis significativos em discussões globais, afastando-se de uma estrutura unipolar tradicional.